“é preciso uma aldeia para criar uma criança”
(provérbio Africano)
mas quando essa aldeia se apresenta, a mão gela, o coração dói, o sono desaparece, a culpa entra sorrateira e a gente teme estar terceirizando a criação dos nossos filhos.
O discurso social que romantiza a sobrecarga materna, como “você é uma guerreira”, “mulher de coragem”, entre outras, no fundo joga no colo das mães toda a responsabilidade pela criação das crianças.
Um peso muitas vezes recebido em toneladas. Em outras palavras, uma bela positividade tóxica, um “fogo amigo”.
É que a boa mãe “tem que” muitas coisas, e na prática, a possibilidade de contar com uma aldeia sem se sentir culpada ou julgada por “não dar conta” sozinha, é ainda uma utopia. Temos muito a avançar na construção de uma cultura mais acolhedora e verdadeiramente apoiadora das mães, e nossa saúde mental não pode esperar.
Certamente você já escutou que creches e escolinhas são “depósitos de crianças”, ou se sentiu julgada por precisar ou escolher contar com babá ou avós. E quantas vezes não foi até julgada pelas próprias babás ou até mesmo pela família?
Nós não podemos mudar os outros, mas nós podemos inspirar a mudança do outro a partir das nossas atitudes, novos comportamentos. Se você mesma acha que receber apoio é terceirizar a sua maternidade, por que os outros não pensariam igual?
Minha proposta é que façamos o exercício pessoal de olhar nossa rede de apoio possível como o que ela é: uma rede de apoio! Quem terceiriza é empresa. Uma mulher-mãe quando aceita parcerias no cuidado do seu filho está, na verdade, aceitando o fato de que a criação de uma criança é uma co-criação.
Acredite que numa criação não existe apenas os pais na vida das crianças, e o mesmo é válido desde bebês. Os pais (leia-se aqui qualquer configuração familiar), não são os únicos responsáveis pela criação das crianças. E não falo apenas de responsabilidade social! Falo de psicologia do desenvolvimento.
As crianças se desenvolvem a partir dos valores propagados e nutridos por toda comunidade que as cercam. Assim, perceba que num mundo que devemos construir, a postura dos adultos deveria colaborar com que todas as crianças de seu em torno vivam bem, sem se preocupar com os limites de parentesco.
Coletivizar nosso pensamento sobre a criação infantil é aceitar que não adianta você sozinha cuidar exclusivamente da vida de seus filhos e deixa-los ir ao mundo que não teve o mesmo cuidado como você ofereceu.
Seus filhos vão se inspirar em valores fora do seu círculo familiar. É normal. Aceite. E para você construir essa aldeia pratique:
Abrir seu coração para quem está ao seu redor de forma menos idealizada;
Meça seus julgamentos e aprenda a pedir apoio;
Apreço a individualidade de cada um, não compare;
Respeite, olhe, entenda, coloque-se no lugar do outro.
Colocando isso em prática, você será capaz de entender os limites de suas responsabilidades e abrirá espaço para outros conviverem na sua aldeia.
Publicado no Medium: Parentalidade